janeiro 31, 2006
Nó
Flora Figueiredo
Estou perdidamente emaranhada
Em seus fios de delícias e doçuras
Já não encontro o começo da meada
Não sei nem mesmo
Se há uma ponta de saída
Ou se a loucura
Vai num ritmo crescente
Até subjugar a minha vida
Não importa
Quero seus nós de seda
Cada vez mais cegos e apertados
A me costurar nas malhas e nos pêlos
Enquanto você me amarra
Permanece atado
Na própria trama redonda do novelo
janeiro 30, 2006
Lya Luft
Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida,
sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério
A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.
janeiro 27, 2006
janeiro 26, 2006
janeiro 24, 2006
janeiro 23, 2006
janeiro 20, 2006
janeiro 19, 2006
Crucificada
Florbela Espanca
Amiga... noiva... irmã... o que quiseres!
Por ti, todos os céus terão estrelas,
Por teu amor, mendiga, hei de merecê-las
Ao beijar a esmola que me deres.
Podes amar até outras mulheres!
- Hei de compor, sonhar palavras belas,
Lindos versos de dor só para elas,
Para em lânguidas noites lhes dizeres!
Crucificada em mim, sobre os meus braços,
Hei de poisar a boca nos teus passos
Pra não serem pisados por ninguém.
E depois... Ah! Depois de dores tamanhas
Nascerás outra vez de outras entranhas,
Nascerás outra vez de uma outra Mãe!
janeiro 18, 2006
Mon Animal
Elisa Lucinda
Eu a vejo quase todas as manhãs. Não é exatamente
bonita. Não importa.
Importa é que a vejo acompanhada perenemente pelo
seu cão. Um pastor alemão com cara de bom
companheiro. E o é. Eu vejo.
Ela o olha como quem agradece. E vão os dois,
não vão em vão, pelas ruas de Copacabana sob o sol,
felizes que só vendo. Eu vejo.
Noutro dia no elevador, ela, eu e Duque:
- Tenho certeza que ele é de Câncer. É muito sensível.
Só falta falar, né Duque?... ele não é lindo?
- Líndíssimo. E você que signo é?
- Ah, sou Capricórnio, mas com ascendente em Câncer,
combina sim.
Fui para a rua pensando longamente nos dois. Depois
pensei nos mistérios da astrologia e perdi o fio do meu
pensamento. Ao final da tarde avistei pela janela Duque
e Ângela indo ver o crepúsculo na praia. Depois vi os
dois voltando sorridentes e caninos, sob a noite estrelada;
ela com fitas de vídeos penduradas no braço; sempre
conversando com ele.
Tenho inveja de Ângela. Essa é que é a verdade. O animal
que eu quero não mora comigo, não almoça mais comigo,
não brinca mais, não me telefona, não me adivinha os
pensamentos, não me acompanha ao crepúsculo, não
gane querendo dengo, nossos signos parecem não mais
combinar. O animal que quero, pensa demais e por isso
não passeia mais comigo.
E o pior, não me lambe mais.
janeiro 17, 2006
janeiro 16, 2006
Meu Jardim
(Vander Lee)
Tô relendo minha lida,
minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida,
minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças,
minha fonte, meus favores
Tô regando minhas folhas,
minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa,
minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa,
minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas,
meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas,
meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando de mim...
janeiro 13, 2006
janeiro 12, 2006
janeiro 11, 2006
Conto de fadas
Florbela Espanca
Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...
Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: "Era uma vez..."
janeiro 10, 2006
Se encontrar...
O ar
Polui-se de sorrisos.
Sorrindo
Sem o intuito de embelezar...
A beleza, porém,
Flui livre e solta
Se encontrar
Uns olhos onde brilhar.
O beija-flor
Lança-se sobre a flor Beijando
Sem querer se florescer
E a flor
Faz-se perfumada e bela
Se encontrar
Uma alma que lhe permita viver.
À noite
Encanta-se com os olhares
Olhando
Sem pretensão de amar...
E o amor
Brota lindo e forte
Se encontrar
Um coração onde desabrochar.
Maria Neide
janeiro 09, 2006
janeiro 06, 2006
janeiro 05, 2006
janeiro 04, 2006
janeiro 03, 2006
Canção da Falsa Adormecida
Lya Luft
Se te pareço ausente, não creias:
Hora a hora o meu amor agarra-se aos teus braços,
Hora a hora o meu desejo revolve estes escombros
E escorrem dos meus olhos mais promessas.
Não acredites neste breve sono;
Não dês valor maior ao meu silêncio;
E se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
Teus lábios em meus lábios para ouvir.
Nem acredites se pensas que te falo:
Palavras
São o meu jeito mais secreto de calar.
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