maio 31, 2009



A Arte de Ser Feliz
Cecília Meireles

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela,
uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente,
que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.

maio 30, 2009



A Árvore
Ivette Centeno

Chegaste
com tua tesoura de jardineiro
e começaste a cortar:
uma folhas aqui e ali
uns ramos...

Eu estava desprevenida
quando arrancaste a raiz.

maio 29, 2009



Biografia
Miguel Torga

Temos todos um rio na lembrança,
E alguns é um rio inteiro a sua vida.
Um rio que não seca e não descansa,
E é uma força perdida
Entre montanhas de desconfiança.

maio 28, 2009



O Beija-Flor
Leconte de Lisle

O verde beija-flor, rei das colinas,
Vendo o rocio e o sol brilhante
Luzir no ninho, trança d'ervas finas,
Qual fresco raio vai-se pelo ar distante.

Rápido voa ao manancial vizinho,
Onde os bambus sussurram como o mar,
Onde o açoká rubro, em cheiros de carinho,
Abre, e eis no peito úmido a fuzilar.

Desce sobre a áurea flor a repousar,
E em rósea taça amor a inebriar,
E morre não sabendo se a pode esgotar!

Em teus lábios tão puros, minha amada,
Tal minha alma quisera terminar,
Só do primeiro beijo perfumada!

maio 22, 2009



Senhor, quero sonhar os teus sonhos,
Quero aprender a esperar,
Quero esperar sonhando,
Sonhar esperando,
Sabendo
Que tu estás comigo:
E teus sonhos se cumprirão em meu viver.
Nunca me deixes disto esquecer.

maio 12, 2009



Retrato
Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

maio 06, 2009



O último sortilégio
Fernando Pessoa

"Converta-me a minha última magia
Numa estátua de mim em corpo vivo!
Morra quem sou, mas quem me fiz e havia,
Anônima presença que se beija,
Carne do meu abstrato amor cativo,
Seja a morte de mim em que revivo;
E tal qual fui, não sendo nada, eu seja!"