janeiro 18, 2006



Mon Animal
Elisa Lucinda

Eu a vejo quase todas as manhãs. Não é exatamente
bonita. Não importa.
Importa é que a vejo acompanhada perenemente pelo
seu cão. Um pastor alemão com cara de bom
companheiro. E o é. Eu vejo.
Ela o olha como quem agradece. E vão os dois,
não vão em vão, pelas ruas de Copacabana sob o sol,
felizes que só vendo. Eu vejo.
Noutro dia no elevador, ela, eu e Duque:
- Tenho certeza que ele é de Câncer. É muito sensível.
Só falta falar, né Duque?... ele não é lindo?
- Líndíssimo. E você que signo é?
- Ah, sou Capricórnio, mas com ascendente em Câncer,
combina sim.
Fui para a rua pensando longamente nos dois. Depois
pensei nos mistérios da astrologia e perdi o fio do meu
pensamento. Ao final da tarde avistei pela janela Duque
e Ângela indo ver o crepúsculo na praia. Depois vi os
dois voltando sorridentes e caninos, sob a noite estrelada;
ela com fitas de vídeos penduradas no braço; sempre
conversando com ele.
Tenho inveja de Ângela. Essa é que é a verdade. O animal
que eu quero não mora comigo, não almoça mais comigo,
não brinca mais, não me telefona, não me adivinha os
pensamentos, não me acompanha ao crepúsculo, não
gane querendo dengo, nossos signos parecem não mais
combinar. O animal que quero, pensa demais e por isso
não passeia mais comigo.
E o pior, não me lambe mais.

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