maio 31, 2006



Procuras-me?
Encandescente

Procuras-me?
Se eu me perder de mim encontras-me?
Perguntas àquela estrela
Que guardou os nossos segredos
Onde me levaram os meus passos
Que me afastaram dos teus braços?
Procuras-me ao cair da noite
Quando as sombras se instalam
Quando o escuro se espalha
Onde estou que não me vês?
Se eu me perder de mim encontras-me?
Estendes-me a mão, abres-me o peito
E guardas-me de tal jeito
Que nunca mais me perderei de mim?

maio 30, 2006



Hoje é aniversário da musa inspiradora,
Marie Fredrikson
Feliz Aniversário !
Muitas alegrias,
Flores e saúde pra ti !
Beijos no seu coração.

Eu não sou eu
Lucina - Zélia Duncan

Eu sou sua miragem
Sombra fresca da sua realidade
Sou sua resposta
Sua ilusão de ótica palpável
Seu improvável
Seu conforto e seu pesadelo
Me diz primeiro
Por que te mostro metade do meu amor
inteiro?
Me diz primeiro
Por que não houve um segundo beijo?
E depois um terceiro?
Eu sou seu corpo mais forte
Seu alvo atingido
Sua semente que nasceu
E não consegue
Te dar o fruto doce, já crescido, eu não sou eu
Eu não sou eu
Sou alguém que você imaginou
Uma visão do seu amor.

maio 29, 2006



Serenata
Cecília Meireles

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

maio 26, 2006



Poeminha Sentimental
Mário Quintana

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

maio 25, 2006



Da maneira mais simples
Eugênio de Andrade

É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo.
Antes do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.

maio 24, 2006



Quanto Mais Vela Mais Acesa
Elisa Lucinda

Um dia quando eu não menstruar mais
vou ter saudade desse bicho sangrador mensal
que inda sou
que mata os homens de mistério
Vou ter saudade desse lindo aparente impropério
desse império de gerações absorvidas
Desse desperdício de vidas
que me escorre agora mês de maio.
Ensaio:
Nesse dia vou querer a vida
com pressa
menos intervalo entre uma frase e outra
menos res-piração entre um fato e outro
menos intervalos entre um impulso e outro
menos lacunas entre a ação e sua causa
e se Deus não entender, rezarei:
Menos pausa, meu Deus
menos pausa.

maio 23, 2006



O vestido
Adélia Prado

No armário do meu quarto escondo de tempo e traça
meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas
à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

maio 22, 2006



Ela gostava
(Encandescente)

Ela gostava
De olhares cúmplices
De palavras doces
E juras molhadas.

Ela gostava
Do enrolar no corpo
Do desenrolar do corpo
Do acordar da pele.

Ela gostava
De carícias longas
De mãos demoradas
Gestos pausaExpectativa.

Ela gostava
Do calor nas coxas
De colar as coxas
De trocar sentidos.

Ela gostava
Da palavra Amor
Da palavra Um
Da palavra Juntos
Da palavra Nós.

maio 19, 2006



Fecho os olhos
(Leslie Holanda)

Na madrugada
No silêncio da corrida
No desespero cotidiano
Da aflição do amanhã
Paro... observo horizontes
Instantes em mim
Além do umbigo
Exercito o presente
Presente divino
Presente humano
Nesta pausa
Suspendo a rotina
Descarrego o que não sou
Embrenho...renovo
Navego em possibilidades
Além vontades
Permitir

maio 18, 2006



Os Degraus
Mário Quintana

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

maio 17, 2006



Coríntios 13:1

Mesmo que eu falasse a língua dos Anjos
e conhecesse todos os mistérios do universo,
sem Amor eu nada seria.

maio 15, 2006


Sou Paulista.
Estamos de Luto !
Hoje, estamos tendo a maior onda de ataques que
se tem notícia pelo crime organizado
de São Paulo.
Covardia !
Indignação !

maio 12, 2006



Distração
Zélia Duncan - Christiaan Oyens

Se você não se distrai, o amor não chega
A sua música não toca
O acaso vira espera e sufoca
A alegria vira ansiedade
E quebra o encanto doce
De te surpreender de verdade
Se você não se distrai, a estrela não cai
O elevador não chega
E as horas não passam
O dia não nasce, a lua não cresce
A paixão vira peste
O abraço, armadilha

Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser
Olhando o céu, chutando lata
E assoviando Beatles na praça
Hoje eu quero encontrar você

Se você não se distrai,
Não descobre uma nova trilha
Não dá um passeio
Não rí de você mesmo
A vida fica mais dura
O tempo passa doendo
E qualquer trovão mete medo
Se você está sempre temendo
A fúria da tempestade.

maio 11, 2006



Se eu Fosse um Padre
Mário Quintana

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

Não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

maio 10, 2006



Tu eras também uma pequena folha
Pablo Neruda

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

maio 09, 2006



"... Se tu viesses ver-me à tardinha ..."
Encandescente

Gosto da pose da Florbela. A Espanca.
Deitada num canapé
Aguardando triste e lânguida
Um amor que não chegava.
Já ensaiei a pose, mas...
Não me fica bem.
Deve ser culpa do sofá
Tenho de comprar um mais apropriado
Para me recostar e suspirar:
"..Ai, se me viesses ver à tardinha..."
Eu, espero de pé
A bater o pé
E impaciente digo:
- Vê lá se te despachas!
Como eu gostava de ser como a Florbela.A Espanca.
E esperar-te calma e lânguida
Em poses de canapé.

maio 08, 2006



Minha Flor Preferida
Maria Neide

Tão linda,
És dona do mais lindo sorriso
Que conheço!

Ouço tua voz, tuas histórias de vida.
Gosto de ouvir imaginar sensações
Que desconheço.

Sinto falta de tudo
Saudade das carícias nos gestos
Levados pelas marés!

Procuro nas reminiscências
Imagens antigas, envelhecidas,
Porta-vozes de tudo quanto és.

Tens semelhança
Com meu gosto refinado,
És como a margarida!

Impossível não me envolver
Diante da visão e aroma
Da minha flor preferida.

São tão ingênuas tuas exigências!
Tão complexas as tuas carências,
E rebeldes os teus enganos!

Maravilhosa no teu orgulho,
No teu sabor, na imaginação revivendo,
Nossos manifestos profanos.

Irrito-me apenas com a beleza
Dos momentos de nostalgia,
Da altivez do teu perfume

Por teres a distância à minha revelia
- Razão para me traíres
Abrigo este amor
Da estupidez
Do meu ciúme.

maio 05, 2006



Sonhos de uma noite de verão
Willian Shakespeare

Há quem diga que todas as noites são de sonhos
Mas há também quem garanta que nem todas,
Só as de verão
No fundo, isso não tem importância
O que interessa mesmo não é a noite em si,
São os sonhos
Sonhos que homem sonha sempre,
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
Dormindo ou acordado.

maio 04, 2006



Nas águas de Amaralina
(na voz da Mart´nália)

Fui pras águas do mar de Amaralina
Com mágoas demais em cima
Aos meus sonhos juntei perfumes, flores
Desejos, temores
Prometi novamente voltar pras águas
Se a força do mar me vingasse as mágoas
Esperei
Me curvei
E na terceira onda entreguei pra Janaína,
Meu amor
Vaidosa e brejeira mãe menina
Ina,
Meu amor
Vaidosa e brejeira mãe menina
Janaína,
Devolveu perfume e flor
Que sina
Mas um velho me falou
Que Jana jamais bancou
Vinganças no desamor
E então
Voltei ao mesmo lugar
No peito só um tremor
Aí meu coração sarou.

maio 03, 2006



Da minha janela
Florbela Espanca

Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito e murmurado...
Ovo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!

Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!

Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como branco lilás que se desfaça!

Amor! teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...

maio 02, 2006



Um gato, em casa, sozinho, sobe
à janela para que, da rua, o
vejam.

O sol bate nos vidros e
aquece o gato que, imóvel,
parece um objecto.

Fica assim para que o
invejem - indiferente
mesmo que o chamem.

Por não sei que privilégio,
os gatos conhecem
a eternidade.

(Nuno Júdice)