setembro 29, 2006
Urgentemente
Eugénio de Andrade
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.
setembro 28, 2006
Primavera
Olavo Bilac
Ah! quem nos dera que isso, como outrora,
inda nos comovesse! Ah! quem nos dera
que inda juntos pudéssemos agora
ver o desabrochar da primavera!
Saíamos com os pássaros e a aurora,
e, no chão, sobre os troncos cheios de hera,
sentavas-te sorrindo, de hora em hora:
"Beijemo-nos! amemo-nos! espera!"
E esse corpo de rosa recendia,
e aos meus beijos de fogo palpitava,
alquebrado de amor e de cansaço...
A alma da terra gorjeava e ria...
Nascia a primavera...E eu te levava,
primavera de carne, pelo braço!
setembro 27, 2006
Formas
Leila Silva
So Sorry !
Disse ela sem parecer.
A sua ausência criou o tédio.
Do tédio fiz um poema
Triste e singelo.
Por demais singelo.
Então fiz as malas
e fui para Avalovara
Andei por todas as vielas
sem guia
A cada vez que me perdia
me achava
Fosse a vida quadrada
Eu percorria os quatro cantos
Mas não !
É redonda como um O
E o fim se confunde com o começo.
setembro 26, 2006
Ensinamento
Adélia Prado
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
setembro 25, 2006
Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.
E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.
Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.
Pablo Neruda
setembro 24, 2006
Foto Polaroid
Isabella Taviani
Sabe o que me cansa?
São essas tuas palavras
Que eu tenho que arrancar do meio da tua
garganta, criança
Que eu tenho que trazer de dentro do teu peito, perfeito!
Mas eu aqui largada
Num canto desse apartamento
Choro mais ou choro menos
Tanto faz, você, você não vem mesmo
Mas eu aqui
Eu aqui morrendo
Desaparecendo como uma foto de Polaroid
Morro mais ou morro menos
Tanto fez, você não veio mesmo
Sabe o que me mata?
São os teus olhos de vidraça
Fosca, embaçada à jato de areia
De onde não mina uma lágrima
Teu olho turmalina, pedra muito negra
Como essa tal amor por mim
Sabe, eu odeio
adorar teu jeito simples de viver
Ver você sorrindo assim loucamente
Quando estou aqui presente
Sentir as suas pernas trêmulas
Depos do prazer satisfeito
E é por isso que eu não aceito
Ver você assim retrocedendo
Abrindo mão dos sonhos, fantasias
Por essa covarde covardia
Muito menos pagando o preço dos nossos pecados
Nem se fosse dez centavos
Vem, Primavera
Luis Carlos Amorim
Vai embora, inverno,
leva contigo o frio,
a solidão, a saudade
e deixa vir a primavera
vestir a terra de flores,
de verde, vida e cores.
Vem, primavera:
contigo renasce a vida,
brota de novo a poesia,
renova-se a esperança.
Vem, primavera:
lança sobre nós o sol,
raio de luz, força e cor,
essência de vida de nós,
pequenos filhos da terra.
Vem, primavera:
abra sorrisos, corações,
botões e céu.
A festa da vida recomeça
e eu te festejo, primavera.
setembro 22, 2006
setembro 21, 2006
Quando
Álvaro de Campos
Quando olho pra mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço de mim? Serei.
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
setembro 20, 2006
Penso linhos e ungüentos
Hilda Hilst
Penso linhos e ungüentos
para o coração machucado de Tempo.
Penso bilhas e pátios
Pela comoção de contemplá-los.
(E de te ver ali
À luz da geometria de teus atos)
Penso-te
Pensando-me em agonia. E não estou.
Estou apenas densa
Recolhendo aroma, passo
O refulgente de ti que me restou.
setembro 19, 2006
setembro 18, 2006
Romantismo
Cecília Meireles
Quem tivesse um amor, nesta noite de lua,
para pensar um belo pensamento
e pousá-lo no vento!
Quem tivesse um amor - longe, certo e impossível -
para se ver chorando, e gostar de chorar,
e adormecer de lágrimas e luar!
Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas,
partisse por nuvens, dormentes e acordado,
levitando apenas, pelo amor levado...
Quem tivesse um amor, sem dúvida nem mácula,
sem antes nem depois: verdade e alegoria...
Ah! quem tivesse... (Mas, quem teve? quem teria?)
setembro 16, 2006
setembro 15, 2006
Hóspede do Tempo
Zélia Duncan
Sou hóspede do tempo
Da minha casa
Das minhas palavras
Das coisas que declaro minhas
Inquilina da vida que me foi dada
Portanto, nada
Ficou na minha bagagem
Do velho brinquedo
Que já não ilude, não me ilude
O que eu tenho é minha atitude
O que eu levo é minha atitude
O que pesa é minha atitude
Minha porção maior
(Para Hilda Hilst)
setembro 14, 2006
setembro 13, 2006
setembro 12, 2006
Um Sonhador
Cesar Augusto
Eu não sei pra onde vou
Pode até não dar em nada
Minha vida segue o sol
No horizonte dessa estrada
Eu nem sei mesmo quem sou
Nessa falta de carinho
Por não ter um grande amor
Aprendi a ser sozinho
E onde o vento me levar
Vou abrir meu coração
Pode ser que num caminho
Num atalho ou num sorriso
Aconteça uma paixão
E vou achar
Num toque do destino
O brilho de um olhar
Sem medo de amar
Não vou deixar
De ser um sonhador
Pois sei, vou encontrar
No fundo dos meus sonhos
O meu grande amor
setembro 11, 2006
Abraços
Encandescente
Há um imenso espaço vazio que me rodeia
Um espaço frio, fechado
Que é a ausência dos teus braços
Quando enleiam os meus.
Há uma porta, que me fecha
Num lugar árido, gelado
Que é a suência dos teus braços
Quando enleiam os meus.
Há uma ausência de liberdade
Quando sozinha, sonho
Com a força dos teus braços
Quando me enclausuram nos teus.
setembro 08, 2006
"O meu mundo não é como o dos outros,
quero demais, exijo demais;
há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante
que eu nem mesma compreendo,
pois estou longe de ser uma pessimista;
sou antes uma exaltada,
com uma alma intensa,
violenta, atormentada,
uma alma que não se sente bem onde está,
que tem saudades? sei lá de quê!"
Florbela Espanca
setembro 07, 2006
Simplesmente Bill
Realidade Torta
Sou um solitário, sempre fui, mas nada daquela coisa de querer ficar sozinho e esquecer tudo, eu gosto de ficar sozinho. Claro que não é sempre, mas nada melhor do que ficar de boa, colocar as idéias em ordem, poder ouvir o som do próprio coração.
Quero um sonho a mais, um dia mais longo, uma noite mais calma. Quero um desejo sem fim, um amor só para mim, quem sabe um dia sem fim. Quero aquela estrela que brilha, no começo da noite. Quero o querer que me quer, quero o querer que te quer. Quero muitas coisas. Nem todas pra mim.
Cada um procura seu caminho, tanto em momentos bons ou em momentos ruins. Eu muitas vezes procuro meus livros, leio para pensar melhor - Estranho - talvez, mas essa é a forma que eu tenho para achar uma solução. Mesmo que ela não exista.
Às vezes querer saber demais. Usar porquês demais, pode tirar a magia que algumas coisas devem ter. Vez ou outra devemos aprender a apreciar. Simplesmente olhar e sonhar. O mistério às vezes faz parte do jogo e da vida.
Estou feliz, estranhamente feliz devo dizer, não, não é um novo amor ou uma nova paixão, estou mais solteiro do que nunca, é simplesmente felicidade comigo mesmo. A vida segue caminho, traçados ou não ela sempre segue.
Eu amo poesia, acho que uma das grandes alegrias da minha vida é poder ler um bom poema, uma linda poesia, aquela que toca a alma, te faz parar de respirar por uns segundos, acelera o coração.
E a vida segue seu curso, sem muito discurso, simples e bela. Uma aquarela de cores e possibilidades, detalhes belos, quebra-cabeça de emoções.
É tão bom descobrir que tudo faz parte de um todo, que os pequenos detalhes nos faz mais feliz do que nunca, que viver não tem segredo.
Dedico esse e o post abaixo ao meu querido amigo Bill
Essa é a sua essência,
Romântico, sonhador, poeta.
Feliz Aniversário !!!
Muitas alegrias pra ti !!!
Beijinhos na sua Alma de Poeta !!!
Bill
Realidade Torta
Uma noite fria, o céu tão distante lá fora, estrelas
caíram, o céu está liso; tão liso que reflete meus
sonhos, meus olhares...
Quem é esse que me olha, procura em mim algo
que não sei o que é; quem é esse que na noite nasce
como uma estrela sem mãe...
No raiar da aurora, no romper do dia, ele some,
deixa pra trás um gosto doce na boca e um pedaço
de sonho a se realizar...
Bill...esse post dedico à você !!!
que todos os seus sonhos se realizem!!!
Feliz Aniversário !!!
Beijinhos
setembro 06, 2006
setembro 05, 2006
setembro 04, 2006
setembro 01, 2006
Poetas
Florbela Espanca
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
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